sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Sob o sal

Esse é um trecho de algo que estou escrevendo agora, depois de um ano e meio entregue ao ESTRANGEIRO NA GAIOLA (selo.EDITH). Não sei o título nem o tamanho do que será isso, por enquanto, estamos, Gustavo e eu, numa viagem ecoturística em Alcapulco.


Você ajusta a borracha da máscara atrás, embaixo do rabo de cabelo já molhado. O cabelo é prata e destoa da idade preta nos pelos. A franja cobre o limite da máscara, a roupa térmica isola o quase gelo do fundo, estamos nele, e passaremos a manhã submersos. Houve um guia, um homem moreno entorno da piscina de alguma marina. Na piscina, nunca cheguei tão perto dos azulejos, os olhos aumentam, toco as futuras ruínas do nosso passeio, desenham cidades interioranas transmutadas em fungos para peixe. Não sei se a lente ou o oxigênio comprimido na garrafa, mas há lentidão debaixo d’ água. A respiração inala o gás ali atrás, amarrado nas costas, fingindo-se vértebra fora do corpo, emprestando um anexo de metal. O homem moreno, o homem-guia, discursa sobre a pressão, sobre a contração e o relaxamento, as idas e vindas, os ventrículos, o perigo da narcose, a pleura do pulmão e o intervalo de três minutos a cada metro durante a subida. Na piscina, os turistas-elefantes. As trombas de plástico emergindo da boca e os azulejos brancos agigantados. Passaremos a manhã submersos, passaremos a manhã em Yucatã.

E o homem moreno daqui é disforme, as lentes cresceram os pés e esqueceram-se da cabeça, felpuda lá no topo. Quem fala comigo são eles, não o moreno, o homem-guia, quem avisa do estrondo são os pés vistos daqui.

O seu cão preto não veio. Continua ali, os buracos na praia, latindo para as espumas. Não sei para onde ir com essa parafernália de mergulho e levanto o dedo interrompendo o homem-guia. Os turistas no azul cristalino e as trombas. Menos você, absolto por um detalhe também branco do azulejo no fundo. Repito em voz alta não sei para onde ir com esta parafernália de mergulho juro é verdade, e o homem-guia responde você vai visitar as crateras deixadas pelo meteoro em Yucatã. Ele insiste n’ outro causo de colisão, ainda mais submerso, de certa crise biológica desfazedora de moléculas e do quase quadrúpede engatinhando nas paredes das casas de praia sob a forma de lagartixas albinas. Lagartixas albinas, vendedoras de passado.

Credo.


E essa viagem imaginária me fez lembrar outra viagem, turística, que fiz na virada, para o Acre. Mochileirando com uma camera na mochila, conheci esses figuras, lindos e mágicos, aqui no vídeo:




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