sexta-feira, 29 de julho de 2011

O Estrangeiro na Gaiola


DRACONIS

Erly contou-me da tua mudança para DRACONIS. Mala e cuia. Você passou no Castelo enquanto eu estava na rua. Nenhuma cueca na gaveta. Foi neste dia. Picotei teus pedaços e pedalei até a Floresta. Um banho de água doce. Fiquei lá, no meio da seiva, ouvindo os sinsarás. Te enterrando aos poucos. Faz 48 meses.

Em DRACONIS, só sete meses te moveram, nem sei.

Nos bolsos de Erly, encontro um livro e imagino notícias. O autor, Doutor Drops. Abro a página 24.

(...) Será o envelhecimento precoce em DRACONIS causa dos excessos no modo de vida deste Oasis em nossa galáxia vazia? Será que conseguiremos perfurar as terras de Draconis com tubos incandescentes capazes de incendiar o gás gelado no centro deste planeta? Seremos capazes de melhorar as condição de vida em Draconis? Será que existiria interesse político, econômico e espiritual (tendo em vista que a totalidade do planeta Draconis é uma teocracia, exceto por pequenos grupos rebeldes sem expressão)?(...)

Absorvo a Teoria do Doutor Drops como se fosse uma verdade absoluta, um guia, coisa assim. Tudo faz sentido, finalmente. A rotação de Draconis é doze vezes mais lenta, e seu tamanho duas vezes menor. Na composição do planeta, bem no cerne da bola, não há magma ou calor algum, evapora dali o gás eloxígeno, o gás gelado. A composição do planeta exige: um Draconiano precisa se deslocar sem repouso para aquecer a corrente sanguínea e prolongar sua permanência sobre o coração lento e polar de Draconis. Por instinto, os conterrâneos de Pingüim (será que Pingüim é um deles?), são nômades incansáveis. Consomem, rapidez do pássaro, todo o oxigênio que lhes é destinado até a morte, e, envelhecem de tanto bater asas e rodar léguas. Está tudo escrito, pode olhar, na Teoria da Evolução Draconiana.

(..) Sendo Draconis o único Oasis vivo em nossa galáxia vazia, onde não circula nenhum sangue a não ser o nosso e o deles, não seria nosso dever ajudar a população draconiana à prolongar sua longevidade?(...)

Incrível. Doutor Drops conclui sua tese com um cálculo filarmônico. No meio das potencias elevadas, e das raízes, quadradas, eu dedilho as tuas rugas. Velhice aflita, Pingüim.

Fecho o livro, destranco o cadeado da bicicleta e me deixo ir, por aí.

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